sábado, 5 de março de 2011

A janela


A primeira vez que pisei naquele lugar achei que minha vida fosse mudar completamente, tudo parecia tão novo, tão estranho... Mas aí depois de alguns dias comecei a notar que tudo era muito igual, mesmos conceitos, mesmos grupos, tudo parecia muito igual. Fiz amizades baseadas nos mesmos conceitos, fui julgada, condenada e absolvida pelos mesmos erros e acertos. Tudo corria como devia, tudo como era antigamente. Eu já quase desistindo de tudo, a janela me parecia cada vez mais tentadora.
Mas aí ele chegou e todos notaram, todos, inclusive eu. Ele veio do nada, sem histórias registradas, veio do outro lado de tudo, com um jeito diferente, com atitudes diferentes. Ele havia chegado no momento em que mais era necessário, no começo ele se mostrou afastado. Um observador sendo observado, observado infelizmente não só por mim, porém de todos que o observavam era como se apenas eu, o enxerga-se realmente. Era como se apenas eu consegui-se ver através da novidade. Ele era do tipo calado, como disse antes, observador. Nem todos gostavam dele, e por incrível que seja justamente aqueles que também não iam com a minha cara. Ele também havia sido julgado, condenado e absolvido por tudo aquilo que eu também havia sido. E assim foi durante muito tempo, ele na dele, eu na minha. Tudo seguindo em frente. Até que um dia eu fui até a janela, e lá estava ele na minha janela. Não me importei, fui até lá como sempre quando precisava pensar. Ali ficamos, em silencio, com olhares furtivos de um para o outro. Assim foi durante dias, semanas, quase dois meses. Às vezes alternava-nos, eu chegava antes, mas confesso que gostava de chegar depois, era bom observá-lo de longe, sentando na nossa janela. O silencio entre nos era como um amigo próximo que promove os encontros. Ate que um dia ele deixa de estar presente e o encontro acontece por si só. Lá estava eu, no meu dia de chegar primeiro, preferi não sentar.Precisava daquele ângulo. Precisava olhar para o chão. Não havia percebido, mas ele estava lá, olhando para o chão também. Ate que ele olhou para mim. “Se for pular me diz, quero ter tempo de estar lá embaixo”...